New Hit: Antes do Linchamento, Uma Auto Crítica Social

Integrantes da Banda New Hit

As últimas notícias dão conta de que nove integrantes da banda de pagode New Hit, denunciados pelo Ministério Público por "estupro qualificado", serão réus de uma ação penal. Já submetidos ao linchamento público desde que foram presos, recentemente encararam mais um round do repúdio público que lhes foi reservado pelas redes sociais, e que vem sendo repercutido pela mídia baiana. Não podemos deixar de notar, entretanto, que todo este estardalhaço oculta a profunda auto crítica que a sociedade deve fazer.

A pergunta que constrange a sociedade baiana, e sobretudo a soteropolitana -  conivente com certa indústria cultural, é: Quem permitiu que aquelas meninas entrassem naquele ônibus? E eu respondo: Nós, e não o policial que está sendo acusado.

E nossa culpa é bem mais antiga que a atual questão envolvendo a New Hit, por uma lógica simples: ninguém é ídolo sozinho, e o poder que emana destes ídolos, é concedido pela sociedade. Ou em outras palavras, o que atraiu essas meninas para aquele ônibus, foram fetiches que emanam da nossa própria alma.

A cada "novo hit" que o pagodão putaria propunha para as rádios, nós consentíamos (e consentimos) sem muita resistência, e até então, dávamos graças que a tal válvula de escape das massas não tinha produzido nada, além de agressões verbais punks, como defenderam outros.

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Pois bem senhoras e senhores, lhes digo que a demonstração da superioridade sexual de homens sobre mulheres expressa no caso New Hit, apenas é a encarnação de um ideário previamente construído através das letras de pagode sexista, que permitimos que toquem nas rádios; que nossos filhos ouçam; e que muitas das vezes compramos ou consumimos rendidos aos apelos da indústria.

Até então, a agressão às mulheres - por este tipo de pagode - tinha ficado restrito apenas à verbalização ponográfica, porém, não mais, agora cruzou-se a linha mágica entre a verbalização e a realidade. Preciso repetir algum refrão sugestivo para que entendamos? Creio que não...

Condenar Antes de Julgar

É muito comum nestes momentos em que a sociedade exibe suas fragilidades, uma comoção pública, seguida de uma condenação precoce. Não nos esqueçamos contudo, que apesar de já terem sido presos (hoje soltos), nada pode afirmar que os rapazes da New Hit serão condenados. Apesar da denúncia acatada pela justiça, o caso ainda não se transformou nem em processo, ou seja, um longo caminho ainda aguarda a solução final: investigação; testemunhas serão ouvidas; versões e contradições serão apresentadas. Só então é que teremos o julgamento de fato.

Apesar disso tudo, o clima é de condenação imediata, sobretudo sem ouvir o que os garotos tem a dizer, porque eles podem expor ainda mais nossa já devassada alma.

Se todas as evidências forem corroboradas em juízo, eles serão condenados, e é importante que se diga, que se comprovada a culpa, a justiça deve ser aplicada de forma exemplar. Entretanto, advogo que não devemos nos orgulhar em condenar alguém, não há felicidade nenhuma na condenação de qualquer ser humano, sobretudo, quando sabemos a sorte que criminosos sexuais costumam ter nas penitenciárias deste país.

E, precisamos entender de uma vez por todas, que a questão vai muito além do patrocínio ou não de uma cervejaria a um evento que o grupo participaria. O que precisa ser questionado é: a condenação dos integrantes da banda New Hit, não é a condenação desta sociedade que construímos?


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