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da esquerda para a direita: Léo Santana (Pagodeiro); MC Sapão (Funkeiro Carioca); 2 Live Crew (Funkeiros de Miami) |
Desde a última sexta-feira, os rokeiros soteropolitanos estão em polvorosa com a publicação da matéria "O Pagode Baiano é o Novo Punk" - no Guia Correio - e repercutida na internet pelo Portal iBahia (para ler matéria completa, clique aqui). Apesar do tom conciliatório, a falta de uma melhor fundamentação mesmo que empírica, e de uma honesta clareza sobre a finalidade da matéria, acirra ainda mais a oposição entre as duas tribos: pagodeiros e rockeiros. Direi em seguida, onde quero chegar.
Evocar uma analogia entre o Punk e o Pagode, não me desperta qualquer tipo de estado de alerta a priori, pois, se o Rock contaminou inúmeras gerações e estilos musicais, não poderia o Pagode ter se apropriado também? Afinal, o Rock pertence ao mundo, e é de domínio público, cada qual faz dele o que achar conveniente. O que me espantou, foi a tentativa de usar os equívocos de um, para saldar os débitos dos outros.
Elementos Ficcionais
O texto começa citando um suposto "advogado rockeiro convicto", que teria apontado uma certa "atitude" para o novo Pagode, em contraposição aos "novos rockeiros", estes, mais apáticos que de costume.
A questão aí é: se este advogado existe mesmo - porque nós sabemos que pode ser apenas um recurso de linguagem, muito utilizado aliás nas crônicas, quando precisamos dialogar com nossas próprias ideias - pois bem, se este cara não for um alter-ego da jornalista, o fato de ser rockeiro convicto não o autoriza a falar em nome de ninguém mais, que não seja o dele próprio. Tampouco o fato de ser advogado, legitima qualquer veredito que ele profira, sem uma boa base argumentativa - que infelizmente não pode ser apreciada na matéria em questão.
Sigamos...
Reducionismo, Saudosismo e Provincianismo
É necessário uma contextualização sempre que ouvimos falar de "rock baiano", mas nesta matéria, mais que isso, é imprescindível um contraponto, porque fica parecendo que apenas uma única fórmula de rock pode ser feita na Bahia, que é a de Raul Seixas, Camisa de Vênus e Úteros em Fúria, o que é bastante reducionista.
Os contextos sociais, políticos, midiáticos - e porque não dizer, espirituais? - avançaram e tornaram nossa sociedade mais complexa, desta forma, não é sensato - e nem artisticamente recomendável - que se insinue que a qualidade do rock feito em Salvador tenha diminuído, porque as bandas de hoje não reproduzem simetricamente a estética do passado, apesar da onda de saudosismo e "retorno" que impera na cultura pop global.
Punk X Funk: Tattoos, Correntes e Linguagem
No último parágrafo, a matéria sugere que existem semelhanças estéticas entre os os pagodeiros e os punks, citando: Igor Kannário - sempre com suas tattoos à mostra, correntes pesadas e sem papas na língua.
Prefiro pensar que tenha sido por ingenuidade e não para produzir "um fato", que foi feita esta associação, embora, não menos equivocada, apesar das boas intenções. "O fato" propriamente dito, é que os elementos citados acima arremetem a uma afinidade com o Funk - o até o Hip Hop: desde o vestuário e adereços (como pode ser observado na imagem no início deste post), até a linguagem de "gueto" e os temas abordados.
E isso sempre esteve claro para todo mundo, e até mesmo para os pagodeiros, o que torna a confusão suscitada menos pertinente.
Erro pelo Erro
Bem... o que me causou espanto mesmo, foi a tentativa de tratar violência e desagregação, como aspectos de uma comunhão artística entre o Pagode e Punk, ao sugerir que: "quebra-quebra em show, briga com Daniela Mercury, inclusão na Lei Antibaixaria e parada na delegacia sob acusação de agredir um funcionário e quebrar quarto de hotel em Aracaju" - sejam aspectos positivos de um tal "rock atitude".
É preciso dizer que acontecimentos análogos que possam ter ocorrido com os Punks, não são motivos de orgulho nem para eles mesmos, tampouco para o Rock ou os rockeiros de uma forma geral. Basta dizer que as gerações posteriores não se animaram muito em seguir reproduzindo essa "atitude", e mesmo os que hoje o fazem, recebem cada vez mais reprovações coletivas dentro de suas próprias tribos.
Ademais, músicos e/ou artistas não receberam uma unção divina que os tornou imaculados: comportamento violento, vocabulário chulo, insultos gratuitos e grosserias congêneres, são mais provas de uma educação ineficaz - ou mesmo a falta dela - que uma dádiva ou um exemplo a ser seguido, tampouco, justificativa para livrar qualquer um das implicações legais de seus atos.
Acho que neste sentido, cabe realmente aos núcleos familiares cuidarem para que seus descendentes exerçam sempre uma ATITUDE vigilante e crítica em relação a si próprios e aos seus ídolos de "atitude" questionável como as mencionadas acima.
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É isso
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