segunda-feira, 13 de abril de 2015

Algumas Questões para Kim Kataguiri: Porta Voz do Movimento Brasil Livre


Kim Kataguiri - segundo ele, colocando a Dilma no bolso.

Assisti a um vídeo do Estadão feito com imagens do último protesto do dia 13/04. Concordando ou discordando todas/os sabemos quais as pautas destas manifestações políticas, então me permitam focar apenas nas questões éticas e estéticas de um dos personagens que apareceu na peça audiovisual, e diria inclusive que do ponto de vista da edição, o interlocutor que mais mereceu destaque - um dos porta vozes do Movimento Brasil Livre - Kim Kataguiri. Não para menos, porque fofinho assim: quem não o vai querer vendendo o seu produto?

Fiz essa piada, mas de forma sincera, não acredito que o Sr. Kataguiri seja apenas uma bela embalagem. Admito que ele tem algum conteúdo sim, talvez o que lhe falte seja o ímpeto por mergulho profundo. Pinçarei apenas dois trechos de seu discurso no vídeo para dialogar, qual sejam:
  •  Quando perguntado sobre um envolvimento político mais direto: (...) (sic) não faz muito sentido pensar nisso no momento em que, o objetivo do movimento é proteger a República, proteger o debate político em si, então, não faz muito sentido pensar no processo democrático em si, quando nosso objetivo é protegê-lo.
  • Quando perguntado sobre a coexistência com os grupos que pedem intervenção militar: (...) (sic) é possível somar forças, para essa questão pontual do impeachment (e depois completa) incomoda que eles agem no campo completamente anti-Republicano, e nós defendemos a República, nós defendemos o liberalismo, e enfim, qualquer tipo de coisa ditatorial, que aja fora do campo Republicano, a gente repudia. Eles estão completamente livres para fazer os protestos deles, desde que longe da gente.
Para um jovem de 19 anos, convenhamos, não é o pior dos mundos. Ainda que no calor do discurso na Avenida Paulista, ele tenha dito: não tem que fazer o PT sangrar, tem que dar um tiro na cabeça do PT - e sejamos tentados a condená-lo, lembremo-nos que um certo líder da esquerda, já conclamou em comício: que era preciso extirpar o DEM da política brasileira.

No calor do discurso, todo mundo transborda.
Não sei se há outra diferença entre morrer lentamente extirpado, ou com um tiro de misericórdia, mas certamente ambos sugerem a mesma meta, o problema é que o diabo mora mesmo é nos detalhes, e neste caso, nos métodos. Um pelo outro, proponho anistia para os dois.

Res Publica: Divagações sobre a Estrutura Republicana e seu Ecossistema

Nos dois pequenos trechos acima, do discurso de Kim Kataguiri, o termo ideia mais pronunciado por ele foi "República", que é com o qual quero começar meu diálogo.

Desenvolvida para se equilibrar num sistema de tríplice contrapeso, a estrutura  de poder da República foi assentada nos pilares de um Poder Executivo (Presidência), outro Legislativo (Câmara e Senado) e o Judiciário.

Notem que para tornar inequívoca e inescapável a natureza Pública dessa estrutura, praticamente todas as formas de acesso a qualquer um dos poderes, é pública ou democrática:
  • A Presidência é eleita por sufrágio universal;
  • O Legislativo também é eleito por voto direto. E aqui uma anomalia no âmbito federal, que possui Câmara e Senado, justamente para aumentar as instâncias de discussão popular das pautas legislativas;
  • O Judiciário o qual se chega através de concurso público, com a diferença para os cargos de instância superiores, mas que são nomeados pelo executivo, tendo que ser ratificados pelo Senado.
Dito isso, e confiando que o Sr. Kataguiri conhece a estrutura da República, falta-lhe a compreensão apenas do Método República, que diverge fundamentalmente do Parlamentarismo, por exemplo.

Talvez o pleito de destituição da Presidenta Dilma Rousseff pelo legislativo, esteja mais próximo do Método Parlamentarismo, qual seja: a população elege um partido ou coalizão,  e esta indica um Ministro Chefe (ou Primeiro Ministro). Dependendo da pressão popular sobre o Parlamento, este pode vir a substituir o Primeiro Ministro por alguém dentro do seu espectro de alianças.

Contudo, a diferença entre a República e o Parlamentarismo está justamente na eleição direta para presidente pela população, e o método, por habitual, já conhecemos: urnas e voto direto - uma pessoa, um voto; 1x1. Inclusive, o único método. Sem margem para interpretações.

Impeachment é artifício de substituição de poder através do legislativo, não é método republicano. O legislativo não pode solapar  ao bel prazer os votos  da população. Repiso, estamos numa República, não num parlamentarismo. Para mudarmos de presidenta/e, no método republicano tão defendido pelo Sr. Kataguiri, apenas outra eleição, que como sabemos acontecerá em 2018.

Mas aqui dou-lhe uma sugestão: que tal convencer para 2018, os que votaram em branco e nulo na última eleição. Quiçá poderiam ter definido a seu favor já neste pleito, porque não o fizeram?

Juntos, votos nulos, em branco e abstenções, somaram quase um terço do total de eleitores, e certamente teriam sido úteis tanto para Aécio, como Marina.

Coexistência com Ideologias Totalitárias e Negação das Democráticas

Para não perder muito tempo nessa questão, vamos direto ao ponto: uma/um brasileira/o dizer que é a favor da ditadura militar, é o mesmo que uma/um alemã/o dizer que é a favor do nazismo; ou mesmo uma/um intaliana/o dizer que é simpático ao facismo.

Carro de som nas últimas manifestações
Entretanto, o porta voz do Movimento Brasil Livre - Kim Kataguiri - admite que(sic)"é possível somar forças, para essa questão pontual do impeachment" com os que pregam o retorno do regime totalitário no Brasil.

Mas se diz incomodado porque (sic) "eles agem no campo completamente anti-Republicano, e nós defendemos a República", e completa: qualquer tipo de coisa ditatorial, que aja fora do campo Republicano, a gente repudia.

Apesar disso, o acima referido movimento, é extremamente hostil à aproximação de manifestantes do PT ou de outros partidos e movimentos de esquerda em suas manifestações, sendo que estes, fazem a disputa ideológica dentro do mesmo campo que Kataguiri diz defender: o republicanismo.

Como pode alguém que defende a República coexistir pacificamente, inclusive na mesma avenida, com ideários da ditadura militar; e perpetrar agressões verbais e físicas a manifestantes do campo democrático?

Não faz sentido.
Kataguiri, afinal que lado você está?

Reafirmo meu interesse pelo que pode dizer um jovem conservador e liberal, me interessa sua potência desbravadora, mas é preciso dialogarmos no sentido de chegarmos ao entendimento de que aquele bloco de gelo que você vê à frente flutuando, é somente a ponta de um colosso gelado submerso. Para fazer o que você está fazendo, bem feito, é necessário topar o desafio de submergir em águas mais profundas. Vais encarar?


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