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Kim Kataguiri - segundo ele, colocando a Dilma no bolso. |
Assisti a um vídeo do Estadão feito com imagens do último protesto do dia 13/04. Concordando ou discordando todas/os sabemos quais as pautas destas manifestações políticas, então me permitam focar apenas nas questões éticas e estéticas de um dos personagens que apareceu na peça audiovisual, e diria inclusive que do ponto de vista da edição, o interlocutor que mais mereceu destaque - um dos porta vozes do Movimento Brasil Livre - Kim Kataguiri. Não para menos, porque fofinho assim: quem não o vai querer vendendo o seu produto?
Fiz essa piada, mas de forma sincera, não acredito que o Sr. Kataguiri seja apenas uma bela embalagem. Admito que ele tem algum conteúdo sim, talvez o que lhe falte seja o ímpeto por mergulho profundo. Pinçarei apenas dois trechos de seu discurso no vídeo para dialogar, qual sejam:
- Quando perguntado sobre um envolvimento político mais direto: (...) (sic) não faz muito sentido pensar nisso no momento em que, o objetivo do movimento é proteger a República, proteger o debate político em si, então, não faz muito sentido pensar no processo democrático em si, quando nosso objetivo é protegê-lo.
- Quando perguntado sobre a coexistência com os grupos que pedem intervenção militar: (...) (sic) é possível somar forças, para essa questão pontual do impeachment (e depois completa) incomoda que eles agem no campo completamente anti-Republicano, e nós defendemos a República, nós defendemos o liberalismo, e enfim, qualquer tipo de coisa ditatorial, que aja fora do campo Republicano, a gente repudia. Eles estão completamente livres para fazer os protestos deles, desde que longe da gente.
Para um jovem de 19 anos, convenhamos, não é o pior dos mundos. Ainda que no calor do discurso na Avenida Paulista, ele tenha dito: não tem que fazer o PT sangrar, tem que dar um tiro na cabeça do PT - e sejamos tentados a condená-lo, lembremo-nos que um certo líder da esquerda, já conclamou em comício: que era preciso extirpar o DEM da política brasileira.
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No calor do discurso, todo mundo transborda. |
Res Publica: Divagações sobre a Estrutura Republicana e seu Ecossistema
Nos dois pequenos trechos acima, do discurso de Kim Kataguiri, o termo ideia mais pronunciado por ele foi "República", que é com o qual quero começar meu diálogo.
Desenvolvida para se equilibrar num sistema de tríplice contrapeso, a estrutura de poder da República foi assentada nos pilares de um Poder Executivo (Presidência), outro Legislativo (Câmara e Senado) e o Judiciário.
Notem que para tornar inequívoca e inescapável a natureza Pública dessa estrutura, praticamente todas as formas de acesso a qualquer um dos poderes, é pública ou democrática:
- A Presidência é eleita por sufrágio universal;
- O Legislativo também é eleito por voto direto. E aqui uma anomalia no âmbito federal, que possui Câmara e Senado, justamente para aumentar as instâncias de discussão popular das pautas legislativas;
- O Judiciário o qual se chega através de concurso público, com a diferença para os cargos de instância superiores, mas que são nomeados pelo executivo, tendo que ser ratificados pelo Senado.
Dito isso, e confiando que o Sr. Kataguiri conhece a estrutura da República, falta-lhe a compreensão apenas do Método República, que diverge fundamentalmente do Parlamentarismo, por exemplo.
Talvez o pleito de destituição da Presidenta Dilma Rousseff pelo legislativo, esteja mais próximo do Método Parlamentarismo, qual seja: a população elege um partido ou coalizão, e esta indica um Ministro Chefe (ou Primeiro Ministro). Dependendo da pressão popular sobre o Parlamento, este pode vir a substituir o Primeiro Ministro por alguém dentro do seu espectro de alianças.
Contudo, a diferença entre a República e o Parlamentarismo está justamente na eleição direta para presidente pela população, e o método, por habitual, já conhecemos: urnas e voto direto - uma pessoa, um voto; 1x1. Inclusive, o único método. Sem margem para interpretações.
Impeachment é artifício de substituição de poder através do legislativo, não é método republicano. O legislativo não pode solapar ao bel prazer os votos da população. Repiso, estamos numa República, não num parlamentarismo. Para mudarmos de presidenta/e, no método republicano tão defendido pelo Sr. Kataguiri, apenas outra eleição, que como sabemos acontecerá em 2018.
Mas aqui dou-lhe uma sugestão: que tal convencer para 2018, os que votaram em branco e nulo na última eleição. Quiçá poderiam ter definido a seu favor já neste pleito, porque não o fizeram?
Juntos, votos nulos, em branco e abstenções, somaram quase um terço do total de eleitores, e certamente teriam sido úteis tanto para Aécio, como Marina.
Coexistência com Ideologias Totalitárias e Negação das Democráticas
Para não perder muito tempo nessa questão, vamos direto ao ponto: uma/um brasileira/o dizer que é a favor da ditadura militar, é o mesmo que uma/um alemã/o dizer que é a favor do nazismo; ou mesmo uma/um intaliana/o dizer que é simpático ao facismo.
Entretanto, o porta voz do Movimento Brasil Livre - Kim Kataguiri - admite que(sic)"é possível somar forças, para essa questão pontual do impeachment" com os que pregam o retorno do regime totalitário no Brasil.
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Carro de som nas últimas manifestações |
Mas se diz incomodado porque (sic) "eles agem no campo completamente anti-Republicano, e nós defendemos a República", e completa: qualquer tipo de coisa ditatorial, que aja fora do campo Republicano, a gente repudia.
Apesar disso, o acima referido movimento, é extremamente hostil à aproximação de manifestantes do PT ou de outros partidos e movimentos de esquerda em suas manifestações, sendo que estes, fazem a disputa ideológica dentro do mesmo campo que Kataguiri diz defender: o republicanismo.
Como pode alguém que defende a República coexistir pacificamente, inclusive na mesma avenida, com ideários da ditadura militar; e perpetrar agressões verbais e físicas a manifestantes do campo democrático?
Não faz sentido.
Kataguiri, afinal que lado você está?
Reafirmo meu interesse pelo que pode dizer um jovem conservador e liberal, me interessa sua potência desbravadora, mas é preciso dialogarmos no sentido de chegarmos ao entendimento de que aquele bloco de gelo que você vê à frente flutuando, é somente a ponta de um colosso gelado submerso. Para fazer o que você está fazendo, bem feito, é necessário topar o desafio de submergir em águas mais profundas. Vais encarar?
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