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Chico Buarque na Passeata dos 100 Mil |
Que Roberto Carlos tenha tentado proibir sua biografia, nada de se admirar - cabem bem aos reis os atos tirânicos - afinal, se não se podem ser temidos e amados ao mesmo tempo, que sejam pelo menos temidos. Ademais, sabemos, e não é de hoje, que Roberto representa esse ideal de Tradição e Família, está pois, apenas por completar o tripé com a defesa da Propriedade. Espanta-me, que artistas que historicamente sempre estiveram em defesa das liberdades, hoje capitulem.
Caetano, Vocês Não Entenderam NADA
Curiosa essa tendência reacionária que tem assolado a fina flor da
música brasileira. Certa vez, Lobão – ele próprio agora convertido à
doutrina “como papai sempre quis” – disse que tinha por Caetano um
respeito geriátrico, à época, o comentário não parecia uma verdade
inconveniente como hoje se apresenta, pergunto-me apenas: se estas
rusgas são excesso de rugas, ou adesismo “tardio” à Casa Grande? Acho que essa coisa toda de "elite cultural" subiu à cabeça, sobretudo, depois do sucesso que Gil, Caetano, Roberto e seu séquito, fizeram no Congresso Nacional usando seu prestígio para patrocinar alterações na lei de direitos autorais.
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Um dia, já foi proibido proibir |
Agora - estes artistas reunidos sob o pseudônimo institucional de "Procure Saber" - voltam à carga para defender o quê mesmo? Censura prévia a biografias com o seguinte rótulo: direito à privacidade. Fossem eles tão favoráveis à "propriedade privada" durante a Ditadura Militar, e nunca teriam sido perseguidos.
Sobre este ponto específico, sou mais levado a concordar com Mário Magalhães que disse em seu blog:
A legislação em vigor permite que Fernando Collor barre uma biografia não autorizada, em nome de sua “boa fama”. Idem o juiz Lalau e o torturador Brilhante Ustra. É assim porque a lei vale para todos, artistas ou não. Pense bem: a prerrogativa de contar a história passou ao coronel Ustra.
E sobremaneira, sintonizo com Luiz Schwarcz, que publicou:
Quem ajuda a moldar a vida e a cultura de um país, seja no futebol, na música ou na política, tem, desde sempre, menor controle de sua vida pública. Sempre foi assim, de Cleópatra a Maria Callas, passando por Getúlio Vargas e pelos ídolos do iê-iê-iê. A defesa da privacidade no mundo contemporâneo deveria nos unir, mas o custo que a lei brasileira cobra é inaceitável, é muito pior.
Para contribuir além do que já expuseram, eu apenas diria que a compreensão da obra de um artista, em grande parte, só pode ser completada quando podemos colocá-la em perspectiva com sua vida privada. Foi a partir do conhecimento das relações amorosas de Picasso em sua trajetória, que pudemos observar o quanto elas alteraram significativamente os ciclos de sua arte. Não imagino que os senhores Buarque, Veloso e Gil ignorem isso, ou sim?
Rebeldes, Ranzinzas e Avarentos
O outro argumento usado pelos artistas do "Procure Saber" e ecoado pela porta-voz do grupo - Paula Lavigne - é o de que esses pobres artistas não tem direito à participação dos lucros das biografias. Avarentos, eu diria, no mínimo. Mesmo que chegasse à casa dos milhões, estes que aí estão a esgrimir teses, já não precisam há muito tempo de mais dinheiro, e em se tratando de mercado editorial brasileiro, sabemos ad nauseam, que ser escritor de livros no nosso país, não é exatamente o melhor dos negócios.
Mas, mais que isso, se pagando pode, vamos agora estabelecer um preço para a liberdade de expressão?
De compositores à contadores; de artistas libertários à ranzinzas avarentos - triste fim da vanguarda artística brasileira: passagem desbotada na memória das nossas novas gerações.
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