sábado, 3 de março de 2012

Caetano Processa Odebrecht: ou... Quando os Artistas São Maiores Que Um Movimento

Os "Donos da Tropicália" processam a Odebrecht
O Caetano Veloso vai recorrer à justiça para tentar impedir que a construtora Odebrecht batize como "Tropicália" o seu mais novo empreendimento imobiliário na orla de Salvador, alegando violação de propriedade intelectual, e questões de ordem ideológica, pois o artista baiano não vislumbra a hipótese ter sua obra associada a um empreendimento imobiliário. Curiosamente contraditório para o homem que não tem pudor em usar a Coca-Cola como rima de sua música.

"Eu posso me apropriar dos ícones da indústria, mas a indústria não pode se apropriar da minha obra", seria a minha síntese para a perspectiva de Veloso, e que fique claro que é minha e não dele, que provavelmente prefira tergiversar sobre o "sim", o "não" e o "talvez". Imaginem a Coca-Cola processando Caetano (Alegria, Alegria) e Tom Zé (Guindaste a Rigor) por propriedade intelectual, por fazerem música citando sua marca.

De qualquer forma, acho estranho que ele reivindique um purismo artístico a esta altura da vida, depois de ter achado tanta coisa controversamente linda, acreditando é claro, na boa fé desses artistas quando dizem que não é uma questão de dinheiro, porque de fato, acho que não precisem, sobretudo Gil e Caetano que tem tantos empreendimentos bem sucedidos, movimentando milhões, na dita indústria cultural brasileira.


O que Caetano omite a seu turno, é que, Tropicália na verdade foi um termo inventado por Hélio Oiticica, era o nome de uma das instalações do artista plástico, que foi assimilado pelo movimento musical.  Conte-nos como foi essa história por favor, Caetano.

Também, achava eu até então, que a Tropicália era em si um movimento global, e portanto, de propriedade da humanidade, e de cidadania planetária. Me espanta saber (mentira, não me espanto mais com Caetano), que isso está longe de ser verdade. Com esta ação judicial e posição pessoal, Caetano, Gil e Tom Zé (até tu, Tom Zé?), provam que o movimento tem dono, e que as vozes de seus criadores são soberanas sobre quem tem o direito ou não de fazê-lo referência.

Quadro de Andy Warhol : referência ao ícone da cultura pop, a Coca-Cola,
assim como na canção de Caetano Veloso, e numa outra canção de Tom Zé.
Não que eu ache que a referência seja digna, já que os prédios são feios e a "Tropicália é Linda", mas para mim essa é a única questão de contra-censo. Na Ladeira da Barra, existe um residencial batizado com o nome do Andy Warhol, sempre que passo por ele penso: definitivamente não é uma boa homenagem... não fazem jus à invetividade do seu homenageado. Digo o mesmo para o residencial Tropicália, está esticamente bem aquém de merecerer o nome que leva, mas só isso.

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3 comentários:

  1. O texto muito fragilmente argumenta que, ao mover processo contra a Odebrecht, Caetano seria "[c]uriosamente contraditório", por ser um "homem que não tem pudor em usar a Coca-Cola como rima de sua música".

    Gostaria de convidar a algumas observações.

    Em primeiro lugar, é preciso entender a insuficiência dos argumentos que se voltam contra a pessoa em detrimento da consideração das ideias. A retórica clássica chama um tal argumento de 'argumentum ad hominem' e aponta a sua precária constituição;

    Em segundo, é importante considerar diferenças cruciais entre as duas situações tão precariamente aproximadas pelo texto:

    1) a referência à Coca-Cola em Alegria, alegria não é uma exaltação curvada ao imperialismo ou às multinacionais, sendo não muito mais que uma contraposição entre duas circunstâncias subjetivas tensamente diferentes entre si: "Eu tomo uma coca-cola, ela pensa em casamento".

    ]2) a nomeação de um condomínio de luxo com o título Tropicália (e a apropriação de termos relacionados ao movimento não terminaria por aí, conforme já disse a advogada de C. Veloso) tende a uma mescla indesejável desde pontos de vista que percebam discrepâncias gritantes entre o ideário estético e contestatário do movimento Tropicália (Gil e Tom Zé tbm protestam!) e tal condomínio de luxo, percebido como expressão dos avanços do mercado imobiliário em sua muito frequentemente invasiva ocupação de espaços da cidade.

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    1. Interessante você citar a "Retórica Clássica", enquanto tergiversávamos sobre o Pop-Art e Arte Brasileira do Pós-Modernismo (:

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  2. A Arte tem dono? Se tem, eu não sabia.
    Naturalmente, a gente cria, o mundo se apropria!

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