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Dilma diz não entender o que está acontecendo |
O Planalto, e demais instâncias de poderes executivo e legislativo do país, têm reportado surpresa e espanto em relação às manifestações que hora aquecem o Brasil. Desfaçatez? Até, talvez... mas me parece mesmo, que de fato essa geração de políticos, um dia jovens ativistas como a própria Presidenta Dilma, estão no limiar de sua compreensão - não apenas do Brasil - mas do Planeta, e é isso que os tem tornado inertes.
Seguem uma série de pílulas para iniciarmos um debate:
É cedo para chamarmos de #Revolução, mas é notório que a escalada da temperatura das manifestações em todo o território nacional (22, das 24 capitais; e 1 Milhão de pessoas aderiram), tem em sua gênese uma revolta inconteste da população insatisfeita com as extremadas contradições da gestão pública em relação ao bem estar dos brasileiros e brasileiras, e que se agravaram com as últimas provocações feitas durante a Copa das Confederações, entre elas, a de Ronaldo, que sugere que "não se faz uma Copa com Hospitais".
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Alguém discorda da legitimidade dessa indignação? |
Revolta das Múltipla #Tags
Não importa se é por R$ 0,20 (vinte centavos); contra a PEC 37; à favor da educação e saúde; contra a corrupção; enfim... não importa. A complexidade do mundo hiperlinkado em que vivemos - o mundo das múltiplas #tags - faz com que qualquer elaboração de raciocínio seja múltipla e hipercomplexa.
Ou seja... no mundo das múltiplas associações, qualquer #20Centavos, vira imediatamente um sugestivo para que nós desfiemos um rosário - ou nuvem - de #hashtags que se associam mesmo que de forma tangente à ideia, como: #foraAlckmin #AcordaBrasil #MaisEducação #MenosCorrupção #CopaaoCaralho #ForaDilma.
Entendamos, o que aparentemente é difuso e ilógico, atende a uma outra lógica de organização do pensamento. O que alguém quis dizer com as #tags acima foi algo como: Não tolero os vinte centavos na passagem; Geraldo Alckmin, como governador de São Paulo, é um dos responsáveis diretos, por isso deve ser punido; o Brasil, precisa se manter alerta e atento ao que está acontecendo; se tivermos uma educação de maior qualidade, a população sairá das "Cavernas", e de olhos abertos verá as coisas para além das sombras; um país menos corrupto, evita que bilhões de reais escorram pelo ralo e vá parar nos bolsos de instituições e pessoas corruptas, como as que constroem e gerenciam a Copa das Confederações - corrupção que impede que o dinheiro seja melhor destinado a outra áreas como educação e transporte; e se Dilma se cala diante das injustiças, e não se coloca ao lado do cidadão e cidadã, não merece estar no lugar que está
Organizacidade Tribal
A nossa sociedade tem experimentado um efeito de retribalização cultural sobremaneira na última década, neste sentido, também uma nova lógica de organização de ideias e sistemas retóricos estão sendo desenvolvidos.
Hoje, uma agrupamento de 10 pessoas, é uma tribo com um discurso próprio; estética própria; ideias próprias; códigos linguísticos próprios; que se diferencia de outras tantas. Mas não para por aí, nos agrupamentos tribais urbanos contemporâneos, um/a indivíduo/a pode pertencer a mais de uma tribo ao mesmo tempo. As novas tribos urbanas não prezam necessariamente pela fidelidade ideológica a um único "lugar simbólico" de pertencimento.
Ao invés de lamentarmos, agora é hora de aprendermos a lidar com isso: está feito, e não voltará atrás. De qualquer sorte, essa "infidelidade ideológica" tem suas virtudes, sim. A nova organicidade tribal é avessa a ideias e ideologias totalitaristas, ou seja, todo mundo pensando a mesma coisa não é o que poderemos almejar daqui por diante.
Mas também, porque o espanto da Presidenta Dilma e seus Ministros e Ministras? Não é o PT ele próprio, um partido fragmentado por tendências? E portanto, companheiros com diversas óticas de observar as mesmas causas com abordagens distintas?
Pensar a organização política neste novo Brasil Multimídiatribal, é valorizar o dialogo com o dissenso, com a contradição e com a diversidade.
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Não é mais o Che Guevara que estampa a cara e as camisas dos novos revolucionários. O que diz o novo personagem? É preciso desbravar a nova estética da revolução. |
Outro Tempo, Outra Teorias
Outra coisa que talvez tire o chão e atordoe a classe governista do país, seja a impossibilidade de se avaliar as atuais questões com os velhos conceitos; aparentemente as velhas teorias não tem dado suporte à compreensão dos fatos que hora nos agitam.
A única sugestão que eu posso dar a Dilma e seu Ministério: atualizem-se. Novos tempos carecem de novas teorias. Comecem pelos vivos... pelo menos eles ainda podem conversar com vocês.
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Ricardo Teixeira e Joseph Blatter: unidos para pilhar o Brasil |
Fifa Governa o Brasil
Estando ontem presente às manifestações em Salvador, posso relatar testemunho in loco, colhido entre os presentes, que externavam frequentemente a insatisfação com o fato de a FIFA ter determinado regras expressas para criar um isolamento da Fonte Nova num raio de quilômetros, afrontando alguns direitos constitucionais como: direito de ir e vir; direito à manifestar-se;
Sabemos que estas não foram as únicas cláusulas pétreas da Constituição Brasileira que foram aviltadas sob o julgo da FIFA; não nos esqueçamos por exemplo, da questão envolvendo a proibição do uso universal da meia-entrada para estudantes nos estádios construídos com dinheiro público, mas que durante a Copa, pertencem e são regidos pelas regras desta entidade estrangeira que é FARTA E COMPROVADAMENTE CORRUPTA.
Isso é mais um dos motivos da nossa indignação, que foram aquecidos durante a manifestação.
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Polícia Militar reprimindo durante a Ditadura. Qualquer semelhança com o presente, não é mera coincidência. |
Síndrome de Estocolmo à Brasileira:
Paixão por Torturadores e Pela Repressão Militar
Uma outra questão tem chamado a atenção - sobretudo da imprensa internacional - é a truculência e a violência ostensiva com que as polícias militares tem se portanto diante das Manifestações.
É curioso notar, que parte dos governantes de agora construíram sua carreira denunciando e se contrapondo aos métodos desumanos a que a Ditadura Militar submetia ativistas que lhe eram contrários. Alguns destes/as políticos/as, eles/as mesmos/as vítimas de perseguição e até torturas, como é o caso do Governador Jaques Wagner - sindicalista histórico - e da Presidenta Dilma.
Visto de agora - e sobremaneira ontem, quando tive os olhos irritados pelo gás lacrimogêneo - me parece que estas pessoas foram tomadas de amor pelos métodos repressivos da Ditadura Militar, como se fossem acometidos por uma variante da Síndrome de Estocolmo, desenvolvendo uma simpatia por aqueles quem um dia foram seus opressores.
Oprimidos-Opressores.
Oprimidos-Opressores.
Não nos esqueçamos que a Polícia Militar é uma herança maldita da época em que os militares governavam com punho de ferro e fogo este país.
Já falamos aqui, mas agora a ONU faz coro: é preciso desmilitarizar a Polícia Militar.
Geração Enciumada
Há entretanto, uma outra hipótese para esta catatonia que viralmente se disseminou entre a classe política brasileira - sobretudo, os ditos de esquerda: estariam eles enciumados?
Ora, estes mesmos que agora se portam como zumbis diante das manchetes excitantes que pululam pelo mundo afora, passaram a última década propalando a ideia de que esta juventude, era inerte. Que o Brasil ainda levaria muito tempo para amadurecer em sua luta pela democracia.
Pois bem... de protagonistas da retórica para as massas, estas/estes agoram passam a coadjuvantes, sendo secundarizados justamente pela juventude em que eles não acreditavam, e mais, os protestos e manifestações que estão em pauta, tem todo potencial para se firmar como uma nova dobra da história brasileira, e tudo isso feita por uma geração de "alienados" políticos.
É... ciúmes talvez...
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Manifestação em Salvador no último dia 20 de Junho de 2013 |
Primavera Tropical
Por fim, uma breve.
É desolador ver que a nossa imprensa tem destacado - ou muitas vezes nem dado atenção - apenas os confrontos entre manifestantes e policiais. Sobre os choques dos protestos, deixo a análise para o Pedro Estevam Serrano, da Carta Capital, que segue na linha de que "há um conjunto de equívocos na postura governamental de querer tratar como caso de polícia os protestos públicos da cidadania."
A destacar apenas que: enquanto a Globo insiste em chamar a atenção para os "vândalos", as agências de notícias internacionais percebem este movimento como a "Primavera Tropical". Não seria a primeira vez que os gringos nos enxergam melhores que nós mesmos.
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