sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Beethoven e os Astros Novos do Pop Baiano

Reprodução de Beethoven feita pelo artista plástico Andy Warhol
(Beethoven e o Pop são velhos conhecidos)



A Orquestra 2 de Julho fez um show, digo, um Concerto na noite de ontem em que deu um Show. Este é um termo que também cabe para os novos Astros Novos da cena Pop da Bahia.


Orquestra Juvenil 2 de Julho
"Vocês tem ingressos para vender?" - foi a pergunta que ouvi assim que cheguei às 19:30 no Teatro Vila Velha. Não dei muita importância a ela, porque havia passado pelo mesmo no último concerto da Orquestra Juvenil 2 de Julho no TCA, afinal teatros lotados tem sido lugar comum em suas apresentações. Então, esperando 30 minutos, me peguei pensando (sim, as filas nos fazem pensar), esses pivetes fazem esgotar ingressos, geram filas de espera e disputa pelo lugar dos convidados faltosos, comoção, alvoroço, turnês... Nos rendamos aos fatos senhoras e senhores, estamos diante do mais novo fenômeno do pop baiano, e me parece que ainda estamos só no início.


Andy Warhol
Não é muito difícil de compreender, afinal. Segundo AndyWarhol: "Ser pop é gostar das coisas". Não há essa distinção ou distanciamento entre o erudito e o popular propriamente dito, afinal não importa do que se gosta, já que o importante é apenas gostar. 

Nos últimos anos, alguns dos maiores vendedores de discos do mundo, flertam ou vem do erudito, artistas como: Luciano Pavarotti, Andrea Bocelli e Sarah Brightman venderam e vendem ainda milhões de discos e realizam (ou realizava, no caso do Pavarotti) concertos para milhares de pessoas ao ar livre. Pode-se dizer: ok... mas cantores mobilizam mais facilmente o público, que a música instrumental, como então a Orquestra 2 de Julho pode ser um fenômeno pop? - e respondo: isso é uma meia verdade, acompanhem meu raciocínio.


A Escolha do Repertório: Beethoven, o Pai do Pop!


Quantos/as de vocês, sem olharem no google, lembram do último sucesso de Britney Spears? Ou Shakira?  Ou Madonna que seja? Lembram do sucesso do Carnaval do ano passado? E o deste ano, ainda lembram? Pois bem... se eu te perguntar, me diga o nome de três compositores "clássicos" (eruditos), você citará Beethoven sem sombra de dúvida, e não é porque é senso comum, é porque ele faz parte do teu dia-a-dia sem que você se dê conta. 

Michael Jackson ainda precisa
de 160 anos para provar que é páreo
para o sucesso de Beethoven
Se Michael Jackson foi considerado o "Rei do Pop", por ainda emplacar hoje sucessos da década de 70, o que diremos de alguém que fez músicas no século XVIII que são tocadas a todo instante no século XXI? Acredite, Beethoven é tão contemporâneo quanto Michael! Pelo menos, três de suas composições são temas frequentes de propagandas como jingles publicitários, toques de celular, espera telefônica, música de elevador, música de casamento, enfim, ele é o sonho de qualquer gravadora... são elas Pour Elise, e os temas principais da 5ª e da 9ª Sinfonias, para não citar temas isolados de algumas de suas sonatas e demais sinfonias, verdadeiros ícones fonográficos no inconsciente coletivo da humanidade. Como exemplo, o último comercial do Guaraná Antarctica, com galinhas cantando, tem como base o tema coral da Nona. Se uma música com 200 anos de sucesso não for pop, não sei mais o que é.


Um Show? Um Concerto? ou Um show de Concerto?



O programa no Viva Velha reuniu duas obras, um Concerto para Violino e Orquestra em Ré, de Tchaikovsky; e a não menos famosa, Sétima Sinfonia de Beethoven. E já demonstro como estas duas obras dialogam facilmente com as linguagens artísticas massivas. A obra de Tchaikovsky, é o tema central do roteiro do filme "O Concerto", de grande repercussão no cenário europeu; e o segundo movimento da Sétima, "Alegretto", não só já foi amplamente utilizado pelas novelas da Rede Globo, como é a trilha de fundo do momento clímax do filme "O Discurso do Rei", premiado amplamente pelo Oscar, com grande arrecadação em bilheteria; ou seja, ambos os filmes ajudaram a disseminar e popularizar para o grande público, a música que a Orquestra Juvenil 2 de Julho tocou na última noite, e pela qual foi exaustivamente aplaudida.

Abaixo trecho final de "O Discurso do Rei", com o segundo movimento da Sétima Sinfonia de Beethoven





Orgulhem-se baianos, temos o nosso mais novo produto musical tipo exportação, com total apelo popular!

Se você é dessas/es que ficam em casa esperando pela última novidade através do MySpace, deixa eu te contar uma coisa, a novidade está num teatro de sua cidade, deixa de preguiça e vai lá assisti-los, eu posso garantir que é uma experiência da qual você não consegue sair indiferente ;)

Seguem mais alguns vídeos complementares:

Propaganda do Guaraná Antarctica com o tema da Nona Sinfonia de Beethoven:



Abaixo, o mesmo tema da Sétima Sinfonia já mencionado, numa versão Trip-Hop, feita pela diva inglesa do pop-lírico, Sarah Brightman:




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5 comentários:

  1. Gosto tanto dos teus textos, da forma como vc argumenta, das suas opiniões. Mas eu sou suspeita né? Afinal sou tua amiga e te amo tanto.

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  2. Beethoven é pop e, com certeza, contemporâneo. Incrivelmente a sua obra é bem difundida em todos os cantos da terra (talvez até fora dela...). Posso até estar errado, mas acredito que com o tempo Michael vai ser esquecido, pela evolução do gênero (funk/pop/), mas a música clássica sempre será música clássica, e, consequentemente, POP. Ponto para Beethoven.

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  3. Olá,
    Li o texto e fiquei numa imensa dúvida. O que a música "pop" fez pro mundo?
    Vejo hoje um cenário artístico na Bahia, como uma coisa a ser chamada de deplorável. O axé music junto com essa nova vertente do pagode, destruiram (por caminhos convincentes) a capacidade de se ouvir música na essência. Essa nova característica de consumir a música rapidamente e que te atenda a um prazer imediato, neste caso prazeres muito mais ligados aos desejos da carne, leva à " arrogância da burrice ". Este pensamento de se alimentar superficialmente das obras artísticas torna o meio algo enfadonho e repetitivo, já que para ser interessante e acessível deve ser "pop"(não faço nenhuma referencia à música Popular, nem à música Pop). Uns 2 anos antes de ingressar na UFBa no curso de música, eu tinha a leve impressão de que só existiam 2 compositores de música erudita: Beethoven e Mozart. Europeus. Você por acaso já ouviu falar em Carlos Gomes, Heitor Villa Lobos ou nomes atuais como Wellington Gomes, Paulo Costa Lima?
    Suas obras são fantásticas. Mas ninguém conhece, muito menos valoriza.
    Se é como um primeiro passo, uma conquista, e que a partir agora as coisas vão caminhar para um crescimento na arte de apreciar música, eu apoio cegamente este projeto. Mas o repertório deve ser algo feito com muito carinho e não simplesmente com o intuito de vender milhões, como o da música pop. Um numero grande de artistas baianos(ou possíveis artistas), que aqui residem e "trabalham" desistem daqui e vão para outro lugar ou simplesmente procuram uma outra profissão para se segurar. Porque é difícil se sustentar algo verdadeiro, real(na minha visão de real) e puro na cidade, já que as pessoas se situam em um patamar de ignorância artística. Eu não quero com este texto desfazer os méritos desses dois grandes compositores, já que eu sou eternamente grato a eles, e completamente apaixonado pela obra, além do que o próprio Beethoven tem uma vasta obra e riquíssima em toda a sua extensão. E se, como eu falei, isto for apenas o pontapé inicial, a estratégia para conquistar o público e daí evoluir, eu direi que estou extremamente feliz, satisfeito e saciado com minha terra, mas que não pare por aí.
    Um Abraço,
    do estudante.

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  4. Olá Sr. Anônimo,
    (Estudante da Escola de Música da UFBA)

    Eu concordo com tudo que você disse, mas gostaria de fazer alguns destaques:

    - Primeiro que Mozart e Beethoven não são "famosos" por obra do acaso. A música que eles fizeram repercutiu nos últimos dois séculos na obra de inúmeros outros compositores. O tempo se encarregará de dizer se Villa e outros contemporâneos terão a mesma importância;

    - A obra dos compositores brasileiros não é totalmente genuína, é basicamente inspirada na obra de compositores Europeus e Americanos, imagino que quando pudermos criar uma obra erudita sem referenciais, talvez nossos compositores escrevam definitivamente seu nome nas tábuas dos imortais;

    - Você fala dos compositores de Salvador, e eu me pergunto, a Bahia só é Salvador? E os outros 416 municípios? Não existem obras e compositores neles, a serem estudadas, ouvidas, pesquisadas? Devemos pensar em como contemplar também este aspecto;

    - Outra, porque é mesmo que esses compositores não gravam e divulgam suas obras. Eu tenho uma banda de rock independente, gravamos umas músicas com dinheiro do nosso bolso, e passamos o dia divulgando na internet. Porque esses compositores eruditos não podem fazer o mesmo para divulgar sua obra?

    - Suas críticas estão muito associadas à política cultural, que nós sabemos ser deficitária tanto no Brasil, mas principalmente na Bahia. Redefinir os rumos dessa política é que é importante;

    - A Orquestra Juvenil 2 de Julho, não pode ser responsabilizada pela atual situação musical da Bahia;

    - Assim como a OSESP (que tem um orçamento anual na casa do R$ 60 Milhões), e que encomenda todo ano algumas obras de compositores brasileiros para sua temporada, imagino que em algum momento, a Orquestra Juvenil 2 de Julho também venha a demandar encomendas de obras de compositores locais. Aliás, num concerto recente no TCA, eles executaram uma obra de Wellington Gomes, o que imagino ser um começo;

    - Se a política do NEOJIBA vai dar certo, ou se este é o caminho para o "pontapé" que mudará os rumos da música na Bahia, nós só saberemos mais a frente;

    - Por fim, o NEOJIBA como projeto cultural, é hoje a alternativa mais consistente que temos no âmbito governamental para construir um futuro mais alentador, apostar nele é a possibilidade de presenciar algumas surpresas no futuro.

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